Olhando assim o título, pode até parecer um pleonasmo.
Ora, mas se alguém venceu uma competição, ainda mais no tênis, esporte individual cuja capacidade de ação está intimamente relacionada ao tenista, é claro que ele é o melhor. No entanto, partindo dessa mesma linha de raciocínio, normalmente depreende-se algo maior, quase filosófico. E é bem por aí que eu vou ditar o ritmo desse post. Mesmo na minha apresentação haviam dito que eu fazia mais o “estilo cabeça”. É bem isso mesmo. Deal with it ou pressionem por uma demissão, queridos. 😉
Sábado, para as mulheres, e domingo, para os homens, Wimbledon chegou ao seu final, uma pena, coroando, na quadra central, Serena Williams e Rafael Nadal, ambos acostumados às vitórias n’O Gramado. Serena vencera lá por três vezes, inclusive no ano passado. Já Nadal triunfara sobre Federer 2 anos atrás, e uma lesão no joelho o impediu de defender o título em 2009.
Pode-se dizer que Wimbledon é um Grand Slam peculiar. O Aberto da Austrália, no começo do ano, conta com uma série de torneios na Oceania, como Auckland e Brisbane, do mesmo modo que quadras duras não são raridade no circuito; Roland Garros e o US Open quase se equivalem: como preparação para o Major do saibro, são disputados três Masters, e para o de Flushing Meadows, dois, em sequência, além de uma vasta temporada no cimento estadunidense. Para Wimbledon, não. São apenas duas semanas de torneios preparatórios, iniciados logo na segunda-feira após a final na França. Se, por um lado, Queen’s e Halle gozam de certa glória entre os ATP-250, o contrário ocorre com Eastbourne e S’Hertogenbosch, esvaziados de grandes estrelas. Portanto, é justo afirmar que dificilmente uma zebra leva o troféu no All England Club. E é assim que vem sendo nos últimos anos. Com pouco tempo de preparação, os favoritos para o penúltimo Slam da temporada dificilmente variam; bons jogadores podem fazer excelentes campanhas o ano inteiro, mas em Wimbledon tudo muda; a grama não agrada a todos, e era comumente ignorada por jogadores de alto nível – Guga abriu mão do torneio quando era numero 1 do ranking, e Thomas Muster, o famoso “Musterminator” sequer ganhou um jogo em Wimbledon; pudera; disputou apenas em três oportunidades o torneio.
Assim sendo, afirmo que é preciso ter algo a mais para ser coroado em Wimbledon. Pelo piso, pelo clima, pela glória. E se hoje existem, tanto no masculino quanto no feminino atletas com esse algo a mais, estes são representados, sem qualquer sombra de duvida, por Rafael Nadal e Serena Williams.
Sim, pode parecer fácil e oportunista fazer análise justamente quando os dois ocupam – com folga – a primeira colocação dos respectivos rankings. Falando individualmente, Rafael Nadal vem na melhor fase da carreira – melhor até do que em 2008, quando encerrou pela primeira fez o domínio de Roger Federer à frente do ranking. Começou o ano em baixa – caiu para quarto lugar, atrás de Murray e Djokovic, e poderia ter sido quinto caso Del Potro estivesse em quadra – sofreu com lesões, falhou em defender o titulo do Australian Open e caiu na semi-final dos dois primeiros Masters do ano. Contudo, se existe alguém que sabe reverter uma situação difícil, brincar de McGyver, e com uma raquete e uma bolinha sair do fundo do poço, esse alguém é o menino de Manacor, sobrinho de um ex-zagueiro da Seleção Espanhola de futebol. E foi exatamente isso que ele fez, usando como alavanca a extensa temporada no saibro – e aqui não vou usar o discurso de achá-la abusiva e mais longa do que o necessário. Rafa venceu simplesmente os três Masters disputados sobre a terra batida, perdendo apenas dois sets. Como defendia muitos pontos, só os somou em Madrid, quando deu o troco em Federer pela final do ano passado e retomou a segunda colocação do ranking. Então veio Roland Garros, reino inconteste de Nadal, que só perdeu um único jogo lá – justamente no ano passado. É justo dizer que ele não encontrou dificuldades em nenhuma das sete partidas. Nem mesmo na final, contra o algoz Robin Soderling, também um desafeto seu. Mais uma vez Nadal levou um Grand Slam sem perder sequer um set, conquistando, quase como recompensa, a liderança do ranking mais uma vez. Por fim, veio a grama, piso no qual Nadal não pisava desde a final de Wimbledon em 2008. Nadal disputou o badalado torneio de Queen’s, que deu a ele seu primeiro título sobre a grama. Perdeu para Feliciano Lopez e entrou como cabeça 2 em Wimbledon.
E aí Nadal deixou claro para o mundo e seus adversários porque ele é Nadal, porque ele é o touro miúra, temido no saibro e muito respeitado fora dele. Começando em baixa, Nadal precisou do quinto set por duas vezes, mas triunfou. Sentiu dores no joelho, mas lutou e seguiu em frente. E após vencer o freguês Paul-Henri Mathieu marcou novo encontro com Robin Soderling, dessa vez na grama. Soderling levou o primeiro, mas Nadal disse “aqui não, outra vez não. Sai fora, sueco”, e reagiu, anulou Soderling e foi para a semi, onde enfrentou Murray e a Inglaterra inteira. Não se intimidou, contou com a falta de cabeça de Murray, que perdeu grandes chances justamente quando não devia, e fechou o jogo sem problemas, em 3 sets. E na final cumpriu mera formalidade contra a surpresa Tomas Berdych. Quebrou o adversário apenas três vezes, venceu três sets e o torneio.
Já disse previamente que não sou grande fã de Nadal. Mas sei enaltecer suas qualidades, e o respeito muito, como grande vencedor que é, e provou isso mais do que nunca em Wimbledon. Mais do que isso, mostrou aos seus adversários que Federer pode estar próximo da aposentadoria, mas que ele está sim pronto para assumir o lugar do suíço. E que venha o US Open e o Career Slam!
Já Serena Williams mais uma vez só confirmou o que todos sabiam: é sim a melhor jogadora da WTA, e isso não é de hoje. Mais do que a larga vantagem no ranking – 8495 pontos contra 5900 de Jelena Jankovic – Serena mostra sua superioridade em quadra. Principalmente em Wimbledon. Não há ninguém, na WTA, atualmente, que possa vencê-la na grama. (Talvez, em dia que lembre os bons momentos de sua carreira, apenas sua irmã, Venus, possa ameaçar a supremacia de Serena sobre a grama).
As esqueléticas beldades do tênis feminino – que parecem se preocupar mais em sair bem nas fotos de biquíni do que em jogar num alto nível – não agüentam retornar seus poderosos saques, tampouco defender seus golpes, que provavelmente incomodariam até alguns jogadores da ATP, tamanha força que ela imprime.
Não acompanho com afinco os torneios da WTA, somente os Slams, e neles Serena domina. A americana até se dá ao luxo de disputar poucos torneios – 15, se não me engano – e mesmo assim tem uma incrível média de pontos. Desde que voltou ao topo do tênis feminino, após o Aberto da Austrália do ano passado, Serena parece mais relaxada. Não se sacrifica, nem se inscreve em dezenas de torneios melhores para somar pontos. Consequentemente, sofre poucas lesões. E mesmo assim mantém-se facilmente na ponta do ranking da WTA. Ora, se isso não serve para qualificar um atleta como o melhor, não sei mais o que serve.
*Acredito que finalizamos por aqui uma seção dedicada exclusivamente ao tênis por um bom tempo – até o US Open, creio eu; os outros torneios devem receber apenas curtas menções. Confesso que sentirei falta.
Pedro Liguori, colaborador do SportsTour desde que Zvonareva ainda não tinha chegado a uma final de Slam, acha Serena Williams a mulher mais gostosa da WTA.
ST Team! 😉